Quando passei a ser gente

Lembro-me do dia em que tirei a foto para o meu primeiro bilhete de identidade como se fosse ontem. Tinha 13 ou 14 anos. Vesti um lindo vestido branco que adorava e que a minha mãe tinha feito de propósito para a minha primeira comunhão. (sim, eu fiz a primeira comunhão e depois?).

Lembro-me de sentir tão bem neste vestido. Normalmente, andava sempre de calção e blusinhas por causa do calor e porque andávamos sempre na estróina... portanto usar vestido e sapatinho era sempre motivo de grande exaltação. Nesta época Cabo Verde ainda não usufruía de grandes recursos, portanto, não havia lugar para o supérfluo. O lema era poupar e reaproveitar. Sem qualquer problema ou complexo, usei o mesmo vestido em duas ocasiões, ou talvez mais...devo-o ter vestido também para algumas festinhas daquelas bem “sabi” que se faziam por lá.

E no dia em que recebi o meu primeiro bilhete de identidade, que feliz que fiquei! Estava radiante por finalmente faze parte integrante de uma sociedade em vias de franca expansão e prosperidade (e com isto não estou a ser irónica)

Aqui está ele, o meu primeiro bilhete de identidade. E não gozem por favor que posso ressentir-me!