16 de maio de 2005

Lugares ::Ilha de Gorée - Senegal::

Por vezes não imaginamos, ou simplesmente ignoramos os lugares que existem por este mundo fora e as histórias que contam. Não imaginamos a História que respiram.

Conheci a Ilha de Gorée quando tinha os meus 7 ou 8 anos. Na época, a minha família vivia no Senegal, em Dakar mais precisamente. A ilha de Gorée foi um dos sítios que visitamos, além de outros não menos interessantes. Tenho pena de não me lembrar de alguns pormenores e de não ter percebido a magia do sítio onde estava. Na época, como qualquer outra criança, só me interessava mergulhar naquela água cristalina e andar a brincar com os meus irmãos de um lado para o outro. Mas havia muito mais.

Depois de tantos anos, e na sequência de uma conversa daquelas em que nos recordamos de peripécias vividas e emoções inexplicáveis, fui assaltada por uma vontade incrível e quase incontrolável de saber mais sobre este lugar. Fui pesquisar e encontrei imagens maravilhosas e histórias fanstásticas.



”Neste santuário africano de dor negra imploramos o perdão do céu”.

Esta frase está escrita numa lápide, na Igreja de S. Carlos, em Gorée e foi dita pelo Papa João Paulo II quando visitou esta ilha, em Fevereiro de 1992. Foi um pedido de perdão por parte do chefe da Igreja Católica, se bem que talvez nunca venha a servir de consolo para ninguém, uma vez que esta instituição fechou os olhos à situação da escravatura durante anos a fio. De qualquer modo, não iremos culpabilizar este papa, que nada teve a ver com isso.

Em 1978, a ilha foi declarada Património da Humanidade pela UNESCO. Por incrível que pareça, esta bonita ilha foi durante 300 anos o maior entreposto de tráfico negreiro da costa ocidental africana. Mais uma homenagem que talvez tenha tido o intuito de compensar minimamente o inimaginável sofrimento de que padeceram os milhões de escravos que estavam condenados a viver uma vida completamente desprovida de dignidade ... mas mais uma vez... não serve de consolo.

Uma síntese histórica sobre a ilha

Em meados do século XV, mais precisamente 1444, os portugueses chegaram a este pedaço de terra rodeado de água. Foram os primeiros europeus a ocupar a ilha. D. Dinis, ao ver a abundância de palmeiras, chamou-a ilha da Palma. A ilha serviu de escala para os navios que partiam para a Índia, mas ficaram pouco tempo lá. A seguir vieram os holandeses que lhe deram o nome de Gorée. Algum tempo depois, estes foram expulsos pelos franceses em 1677, que ocuparam a cobiçada ilha durante 3 séculos, com intervalos de ocupação inglesa.


A viagem até Gorée

A partir do Porto de Dakar, a Ilha de Gorée fica aproximadamente a 20 minutos de barco. A viagem é feita de ferry boat.

À chegada, avistamos logo à nossa direita, o Fort d'Estrées, actualmente o Museu Histórico do Senegal



A praia que nos dá as benvindas







A bela marginal. Daqui podemos vislumbrar um conjunto de casas coloridas.






O Porto



Uma ruela típica



Casas coloridas, uma forte característica da ilha



A Casa dos Escravos... que terríveis histórias contariam estas paredes...









"Em cubículos que não excediam oito metros quadrados, amontoavam-se até 40 homens ou mulheres. Daqui saiam, apenas, uma vez por dia para fazerem as suas necessidades; ao lado, as raparigas estavam proibidas de sair e dispunham somente de um buraco no chão; uma centena de crianças eram arrumadas num estreito corredor, onde a taxa de mortalidade rondava os 60%. Por cima, os traficantes dispunham de aposentos espaçosos, com grandes janelas acessíveis por uma escadaria, cozinha e varanda com vista para o mar. Os homens eram escolhidos pelo seu peso que, no mínimo, tinha de ser de 60 kgs; as mulheres pela generosidade dos seus peitos; e as crianças, pela saúde da sua dentição. Já no barco negreiro, além de fortemente acorrentados, os escravos eram encaixados como sardinhas em lata, com os pés para a cabeça do vizinho e assim sucessivamente, em fileiras sobrepostas de beliches de madeira a todo o comprimento do porão"


Relais d'Espadon - Antigo palácio do governador do Senegal





Uma torre de vigia... um dos poucos vestígios deixados pelos portugueses na sua curta estadia em Gorée.

3 comentários:

JC disse...

Se imagens hà que valem por mil palavras, acho que acabaste por o demonstrar. ;)
Para quando mais imagens, do teu paraiso natal?
Imagens muito bonitas, sim senhora... para mim que não conheço a localidade, fiquei impressionado com a beleza do local. Parabéns e mostra-nos mais!

Ricardo M. disse...

Fotografias lindas. Adorei ler/ver este post.

:)

simplex disse...

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