30 de maio de 2006

Numa esplanada algures em Lisboa

Sento-me numa esplanada algures no Areeiro. Peço um café e um bolo. Abstraindo-me da multidão de pessoas que ali circula, reparo num homem de idade bastante avançada que está sentado na mesa à minha frente. Está sozinho também. Ele repara que o estou a observar mas não parece incomodado. Tem um lenço na mão que leva à boca. Não consigo deixar de pensar o que passará na cabeça deste homem de ar resignado. Estaria à espera de alguém? Estaria à espera que o tempo passasse? Talvez quisesse que o tempo parasse. Não sei o que estaria a pensar, mas imagino que os pensamentos não seriam tão diferentes dos meus. Pensaria na vida? Talvez estivesse apenas a aproveitar o dia de sol numa esplanada de Lisboa. Vejo que passa um mar de gente por nós, mas sinto que ele também me observa.
Certamente já reparou que o observo e escrevo, escrevo e observo-o.

Vem-me à cabeça o pensamento de que quando vemos uma pessoa idosa de aspecto frágil, temos tendência a sentir uma certa compaixão. Olho mais uma vez para este homem de boné e penso "não tenho pena" mas sim admiração. Este homem já viveu muito, já viveu coisas que a maior parte de nós nunca chegará a viver. Devemos admirar estas pessoas, não sentir pena. Nos dias que correm, não vivemos, vamos vivendo e sobrevivendo. Não tenho pena. Este homem há teve 30 anos e provavelemente vai nos 90. Admiro-o.
Deve ter tanta história para contar e ninguém que o oiça.



Por fim, ele levanta-se com ajuda de duas muletas. Trocamos um último olhar cúmplice e devagarinho retoma o seu sumo.

E eu faço o mesmo. Não trocámos uma única palavra, mas conversamos em silêncio.

2 comentários:

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