4 de setembro de 2006

Tio Tanche

Deixem-me falar-vos um pouco sobre o meu tio Tanche.

Era um homem pequeno e roliço, mas muito robusto. Tinha uma luzente careca que dava vontade de passar a mão. o Tio Tanche não era um homem qualquer. Era um homem que parecia não envelhecer. Passavam-se anos e ele continuava o mesmo homem robusto e doce de sempre. Era o melhor tio que uma pessoa poderia ter. Ele a a sua esposa, tia Leia. E nem sequer são tios, são parentes, e mas muito mais do que isso, são verdadeiros amigos, uma preciosidade nos dias que correm. Tio Tanche e tia Leia. São as melhores pessoas do mundo.

Lembro-me de brincarmos todos na casa deles. Era uma casa grande com um bonito pátio interior com jardim com um pé de tamarina, que costumávamos trepar para colhermos as saborosas tamarinas. Não havia tamarinas tão boas como aquelas. Comiamos tanto que ficavámos com dor de barriga.

Os corredores que davam para os quartos ladeavam o pátio. Tinha muitas plantas. Lembro-me de percorrermos os corredores desta casa até nos cansarmos. Depois íamos para a cozinha comer um lanche bem farto que a tia Leia nos tinha preparado. O tio Tanche sentava-se sempre à mesa connosco, sempre bem disposto e cheio de estórias para contar. Lembro-me do seu riso sonante e contagiante, do seu sorriso aberto, dos seus braços sempre prontos para nos abraçar, dos seus olhos sinceros, alegres. Lembro-me da sua meiguice, do seu ar de malandro, sempre pronto para pegar partidas aos mais novos. Lembro-me da sua paciência. Não se cansava de nos ter por perto.

São tantas as memórias do tio Tanche, e ao mesmo tempo as memórias desse tempo misturam-se com uma saudade sufocante que só agora me apercebi que sentia. Apesar de estar longe, sei que aquela casa que tantas memórias abraça, também terá saudades do riso e da alegria do tio Tanche. Agora ficará coberta por um manto de profunda tristeza e saudade. Sei que a tia Leia se irá sentir só naquela casa grande e que as suas lágrimas irão cair sobre aqueles corredores durante muito tempo. Nunca os imaginei separados, sempre pensei que o tio Tanche fosse viver até os cem anos e que continuaria a fazer rir todos à sua volta com as suas estórias e a sua boa disposição. Tio, bô bai ced demás.

Não tive oportunidade de lhe dizer o quanto gostava dele. Vou dizê-lo agora
Tio, nunca teremos outro amigo como tu. Onde quer que estejas, o teu riso e a tua alegria estará sempre presente. Quero que saibas que foste sempre o nosso preferido. Desculpa-me não me ter despedido de ti. Tinhas acabado de fazer anos! Não deverias ter partido tão cedo. Tinha programado ir lá a vossa casa em São Vicente, queria apresentar-te o meu namorado, queria que ele visse aquela casa e que ouvisse as tuas estórias.
Mas sei que vais estar lá. Aquela casa era o teu mundo. Sei que não deixarás a tia Leia sozinha. Espero encontrar-te lá, onde sempre foste feliz. Sabes que sempre gostei daquela casa e sei que te vou encontrar lá. Vais ficar feliz por nos ver novamente. Quero ver o pé de tamarina e roubar-te algumas se ainda houver. E olha tio, sei onde te vou encontrar. Estarás naquele teu quarto secreto que fechavas à chave e não deixavas ninguém entrar. É lá que vais estar.

Não me despedi de ti, mas não é preciso porque sei que te vou encontrar lá. Isto não é um Adeus, é um até à próxima. Um beijo da tua Mariana.

Sem comentários: