29 de agosto de 2006

O Olfacto

Não vos acontece terem uma sensação de dejá vu quando sentem um determinado aroma?

Acontece-me constantemente. Sou muito dada a cheiros. Considero o olfacto o sentido mais apurado e fascinante que temos. Desde miúda tenho a mania de cheirar tudo, os lençois, a roupa, as salas onde entro, a comida, os perfumes das pessoas que passam, as ruas, os livros. Uma das sensações mais agradáveis para mim é sentir o cheiro de um livro novinho em folha.

Depois, existem os cheiros que nos lembram momentos passados, coisas vividas. São estes os mais importantes, são os que me fascinam mais. Há cheiros que não esqueço, há cheiros que ficam registados no nosso subconsciente para sempre, e quando reaparecem, parece que revivemos aquel momento. Tudo o resto se dilui naquele momento de regressão, em que fazemos uma viagem interior intensa da qual não conseguimos fugir.

Por exemplo, quando passa alguém que deixa para trás o cheiro de um perfume que conhecem, não se lembram repentinamente de alguém? Ou quando sentem o cheiro a lenha queimada, não vos lembra uma noite passada à frente de uma lareira? Quando sentem o cheiro de relva molhada, não vos faz lembrar um dia de brincadeira à chuva quando eram pequenos? Pois para mim, são dos momentos mais preciosos que vivo.

Se fecharmos os olhos e nos deixemos levar pelo silêncio, resta-nos o olfacto, e neste momento, somos levados para um universo completamente diferente daquele que conhecemos visualmente. É um universo em bruto, que conseguimos absorver de uma forma pura e completa.

Sem comentários: